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Bacabal,14/10/2025

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Raimundo Sirino

Como implementar agricultura de precisão na sua fazenda - e lucrar com isso

Sensores, drones, dados e máquinas conectadas já não são exclusividade das grandes multinacionais. Com planejamento, crédito e orientação técnica, empresários rurais brasileiros podem transformar seus resultados no campo

Imagem gerada com o uso de Inteligência Artificial pelo autor
Como implementar agricultura de precisão na sua fazenda  - e lucrar com isso

Introdução – por que entrar na agricultura de precisão agora

A agricultura de precisão deixou de ser promessa para se tornar uma realidade transformadora no campo brasileiro. Em vez de depender apenas da intuição ou da experiência acumulada, o produtor rural agora pode contar com sensores, mapas digitais, dados climáticos em tempo real e algoritmos que apontam exatamente onde, quanto e quando plantar, irrigar ou aplicar insumos. A adoção dessas ferramentas está redefinindo a lógica da produção agrícola no país, impulsionando margens de lucro e reduzindo perdas.

Segundo um levantamento da consultoria McKinsey, publicado em 2024, propriedades rurais que adotam tecnologias de agricultura de precisão registraram, em média, aumento de até 20% na produtividade e redução de 15% nos custos operacionais. Em regiões como o Centro-Oeste e o Matopiba, onde a escala produtiva favorece a inovação, esses ganhos são ainda mais expressivos. Mas o mais importante: o uso dessas tecnologias já está se expandindo também para pequenos e médios produtores, com soluções modulares e acessíveis.


O cenário atual impõe desafios crescentes: preços internacionais oscilantes, custos elevados com fertilizantes e defensivos, exigências ambientais mais rigorosas e uma demanda global por rastreabilidade e sustentabilidade. Nesse contexto, a agricultura de precisão se apresenta como uma resposta estratégica. Ela não apenas otimiza o uso dos recursos, como fortalece a capacidade do produtor de tomar decisões mais rápidas, baseadas em dados concretos.

Adotar esse novo modelo não exige uma revolução imediata na fazenda. Pelo contrário: especialistas defendem que a transição deve ser gradual, com foco em etapas bem planejadas. Começar com um mapeamento detalhado do solo, implementar sensores simples ou utilizar drones para diagnósticos pontuais já pode trazer resultados expressivos. O segredo está em dar o primeiro passo com consciência de onde se quer chegar e entender que tecnologia e rentabilidade andam, hoje, lado a lado.

Como destaca o Engenheiro Agrônomo Marcos Fava Neves, da USP: “O produtor que não investir em dados, conectividade e gestão inteligente da lavoura vai perder espaço. A agricultura de precisão não é mais uma vantagem competitiva. É uma condição básica para continuar no jogo”. Nesse jogo, quem se antecipa colhe mais e melhor.

Passo a passo para aderir à Agricultura de Precisão

Passo 1 – Faça um diagnóstico da propriedade

Antes de investir em qualquer tecnologia, o primeiro passo é conhecer profundamente a própria área de produção. Isso inclui mapear a fertilidade do solo, relevo, histórico de produtividade por talhão e áreas com maior incidência de pragas ou falhas no cultivo. Muitas vezes, esse levantamento pode ser feito com apoio de consultorias agronômicas, cooperativas ou startups especializadas em mapeamento agroambiental. Sem esse diagnóstico, a adoção de tecnologias corre o risco de ser mal direcionada e ineficaz.

Passo 2 – Estabeleça metas claras e realistas

A agricultura de precisão não é uma solução genérica: seu valor está na customização. Por isso, definir objetivos específicos, como reduzir em 10% o uso de fertilizantes, aumentar em 15% a produtividade do milho em áreas de baixo rendimento ou evitar o desperdício de água na irrigação, é fundamental para escolher as ferramentas certas. Com metas bem delimitadas, o retorno sobre o investimento (ROI) se torna mensurável, o que facilita o planejamento financeiro e o acesso ao crédito rural.

Passo 3 – Invista na conectividade da fazenda

Boa parte das tecnologias de precisão depende de conexão estável para transmitir dados entre sensores, tratores, drones e plataformas de gestão. Regiões com sinal precário de internet podem lançar mão de soluções como antenas via satélite, redes privadas LTE ou parcerias com operadoras que oferecem conectividade rural. Segundo a CNA, apenas 23% das propriedades brasileiras possuem conexão de qualidade, o que torna esse investimento uma etapa decisiva e muitas vezes negligenciada.

Passo 4 – Comece pequeno, com tecnologias de impacto imediato

Ao contrário do que muitos imaginam, entrar na agricultura de precisão não exige grandes investimentos iniciais. É possível começar com soluções acessíveis, como sensores de umidade do solo, GPS agrícola para orientação em linha reta, mapeamento com drones alugados e softwares gratuitos ou de baixo custo para monitoramento de lavouras. “A evolução tecnológica pode, e deve, ser modular. O importante é ter clareza dos ganhos e ir escalando conforme os resultados”, afirma Rafael Fonseca, diretor da agtech Horus.

Passo 5 – Capacite sua equipe para operar e interpretar dados

Tecnologia sem capacitação é dinheiro mal gasto. Um dos principais gargalos relatados por produtores que fracassaram na adoção da AP foi a dificuldade da equipe operacional em entender o funcionamento dos sistemas. Cursos técnicos oferecidos pelo Senar, Embrapa e plataformas privadas de ensino já cobrem desde o uso de drones até a leitura de mapas de calor. Além disso, startups e fornecedores muitas vezes incluem treinamento nos pacotes de implementação, o que facilita a curva de aprendizado no campo.

Casos que valem ser imitados

Grupo Pioneira (MS)

Localizado em Chapadão do Sul, no Mato Grosso do Sul, o Grupo Pioneira iniciou sua jornada na agricultura de precisão com foco em correção localizada de solo e gestão de fertilizantes. Após a implementação de sensores de condutividade elétrica e mapeamento por zonas de manejo, a propriedade conseguiu reduzir em 27% o uso de adubos em três safras consecutivas, mantendo o rendimento médio da soja acima de 65 sacas por hectare. O retorno do investimento veio já na segunda safra, com economia direta e ganhos indiretos na eficiência da logística e no planejamento de safras futuras.

Fazenda São Pedro (GO)

Na região de Rio Verde, em Goiás, a Fazenda São Pedro apostou na integração entre drones, sensores NDVI e algoritmos de inteligência artificial para detectar precocemente falhas no desenvolvimento da lavoura de milho. A partir da identificação de áreas com estresse hídrico e ataque inicial de lagartas, a fazenda aplicou defensivos de forma localizada, reduzindo em 22% o volume total de produtos utilizados. Como resultado, a produtividade média saltou de 155 para 183 sacas por hectare em apenas uma safra, além de reduzir a pressão ambiental e melhorar o desempenho em auditorias de certificação agrícola.

Agropecuária Aroeira (MT)

Com mais de 6 mil hectares dedicados ao cultivo de algodão e soja em Sapezal (MT), a Agropecuária Aroeira decidiu investir em máquinas agrícolas com piloto automático, sensores de telemetria e softwares de gestão integrada. A combinação dessas ferramentas permitiu otimizar o uso de combustível, melhorar a distribuição de sementes e reduzir o retrabalho nas operações de campo. A eficiência no plantio subiu 30% em relação ao sistema anterior, e o monitoramento remoto das máquinas reduziu em 40% o tempo de parada por falhas mecânicas. Para o gestor da fazenda, o maior ganho foi a previsibilidade das operações e a agilidade na tomada de decisões.

Os erros mais comuns de quem começa sem planejar

Um dos erros mais recorrentes entre produtores que iniciam na agricultura de precisão é investir em tecnologias caras e sofisticadas sem ter clareza sobre as reais necessidades da propriedade. É comum ver fazendas adquirindo drones, sensores e softwares avançados antes mesmo de fazer um mapeamento adequado do solo ou definir metas de produtividade. O resultado? Equipamentos subutilizados, gastos excessivos e frustração com a falta de retorno rápido.

Outro equívoco frequente é negligenciar a capacitação da equipe que vai operar as tecnologias no dia a dia. Muitas vezes, o produtor aposta em maquinário com piloto automático ou sistemas de pulverização localizada, mas os operadores não recebem o treinamento adequado, o que leva à má utilização ou até à desativação dos recursos. Tecnologia sem preparo humano se torna um investimento estagnado, e pode até gerar prejuízos operacionais.

A falta de integração entre os sistemas também representa um obstáculo relevante. É comum que o produtor contrate diferentes fornecedores, isto é, um para sensores, outro para imagens aéreas, outro para software de gestão, sem garantir a compatibilidade entre as plataformas. Com isso, os dados ficam dispersos, não conversam entre si e perdem seu valor estratégico. O ideal é priorizar soluções integradas ou plataformas que se comuniquem com diferentes fornecedores, garantindo fluidez na análise e uso da informação.

Outro ponto crítico é a terceirização cega da gestão dos dados. Embora muitas empresas ofereçam serviços completos de coleta e interpretação das informações agronômicas, o produtor não pode abrir mão de compreender minimamente os indicadores e participar das decisões. A dependência excessiva de consultores externos sem envolvimento direto compromete a autonomia na gestão da fazenda e limita a capacidade de resposta diante de imprevistos no campo.

Por fim, um erro que compromete muitos projetos de inovação é a expectativa irreal de retorno imediato. A agricultura de precisão exige um período de adaptação, aprendizagem e maturação dos processos. O retorno econômico pode vir já na primeira safra, mas, na maioria dos casos, é a constância ao longo de dois ou três ciclos produtivos que garante a consolidação dos resultados. Entrar nesse universo exige visão estratégica, paciência e disposição para aprimorar continuamente o uso da tecnologia.

O futuro próximo: o que vem por aí


A próxima etapa da agricultura de precisão no Brasil será marcada pela integração total entre tecnologias e a consolidação de ecossistemas digitais no campo. Já está em curso a convergência entre sensores, máquinas, drones e sistemas de gestão agrícola em plataformas únicas, que permitem ao produtor rural monitorar, diagnosticar e tomar decisões em tempo real, com base em dados georreferenciados e inteligência artificial. Essa sinergia promete acelerar a automação das propriedades e reduzir drasticamente as margens de erro nas operações agrícolas.

Outra tendência promissora é o uso da inteligência artificial generativa para prever padrões climáticos, recomendar práticas agronômicas personalizadas e antecipar o surgimento de pragas e doenças. Startups e centros de pesquisa brasileiros estão desenvolvendo modelos que cruzam dados históricos com imagens de satélite e sensores de campo, criando alertas preventivos e planos de ação específicos por talhão. Com isso, a agricultura caminha para um modelo cada vez mais preditivo, com intervenções pontuais e altamente eficientes.

A rastreabilidade digital e o uso de blockchain também ganharão espaço, principalmente impulsionados pelas exigências de mercados internacionais quanto à origem e sustentabilidade dos alimentos. As soluções em desenvolvimento permitirão registrar desde o histórico do solo até o uso de defensivos, passando por certificações ambientais e práticas regenerativas. Essa transparência deve se tornar um diferencial competitivo importante, especialmente em cadeias como a da soja, do café e da carne bovina.


A robotização das lavouras, embora ainda restrita a culturas de alto valor agregado, começa a ganhar tração com a chegada de tratores autônomos, robôs pulverizadores e colhedoras guiadas por IA. O custo dessas tecnologias vem caindo gradualmente, e empresas estão começando a oferecer modelos de assinatura ou aluguel por hectare, democratizando o acesso à automação avançada mesmo em propriedades de médio porte. Essa tendência deverá se intensificar nos próximos cinco anos.

Por fim, espera-se um salto na qualificação dos profissionais do campo. Universidades, cooperativas e plataformas digitais vêm ampliando sua oferta de formação técnica voltada para o uso de dados, gestão de plataformas digitais e operação de equipamentos inteligentes. Esse novo perfil profissional, o “agrogestor de dados”, será peça-chave na transição definitiva para um agronegócio conectado, sustentável e competitivo. O futuro da agricultura será digital, e o Brasil, com sua escala e diversidade produtiva, tem tudo para liderar essa nova era.

Conclusão - quem começa agora, chega na frente

A agricultura de precisão não é uma promessa distante nem uma tecnologia exclusiva dos grandes players do agro. Ela já está transformando o campo brasileiro de forma silenciosa e contínua, entregando ganhos de eficiência, economia de recursos e maior sustentabilidade. Com o avanço das soluções modulares, da conectividade rural e da capacitação técnica, nunca foi tão possível, e necessário, começar a trilhar esse caminho.

Para o produtor que deseja se manter competitivo em um mercado cada vez mais exigente e globalizado, adotar a agricultura de precisão significa muito mais do que modernizar a fazenda: é garantir previsibilidade, rastreabilidade e resiliência diante de oscilações climáticas e de preços. Mais que isso, é assumir o controle dos próprios dados e decisões, com base em evidências e não mais em suposições.

O momento de agir é agora. Os casos de sucesso se multiplicam, o acesso ao crédito está mais favorável e as tecnologias se tornaram mais acessíveis e escaláveis. Esperar pode significar perder espaço e receita. Como apontam especialistas, a diferença entre os produtores do futuro e os do passado não será o tamanho da propriedade, mas a capacidade de utilizar informação de forma estratégica. E, nesse jogo, quem se antecipa já larga na frente.

Imagem:https://www.comprerural.com/ (2025)

______________________

Raimundo Sirino Rodrigues Filho. Engenheiro Agrônomo, Pesquisador, Extensionista Rural e Professor Universitário. Graduado em Agronomia (UEMA); MSc. em Engenharia Agrícola – Irrigação e Drenagem (UFV) e DSc. em Agronomia – Solos e Nutrição de Plantas (UFPB).




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