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Bacabal,14/10/2025

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Raimundo Sirino

Agricultura de precisão

Quando o campo vira um laboratório de alta tecnologia. Sensores, satélites, robôs e toneladas de dados estão transformando a forma como produzimos alimentos. Bem-vindo à nova era da lavoura inteligente.

Imagem gerada com o uso de Inteligência Artificial pelo autor
Agricultura de precisão

Uma revolução nas lavouras

No coração do Brasil, em uma imensa fazenda de soja no interior do Mato Grosso, um trator corta o campo com movimentos tão precisos quanto os de uma impressora 3D. O operador? Um software embarcado. A rota? Calculada por GPS com exatidão centimétrica. O destino? Um novo paradigma na produção de alimentos: a agricultura de precisão.


Quase imperceptível ao consumidor urbano, essa revolução tecnológica está remodelando o modo como cultivamos, adubamos, irrigamos e colhemos. Se antes a lavoura era comandada por intuição e experiência acumulada, hoje ela é monitorada por drones, analisada por algoritmos e guiada por satélites.

O que é agricultura de precisão, afinal?

Agricultura de precisão é o nome dado ao conjunto de tecnologias que permite tratar cada pedaço da lavoura como único. Em vez de aplicar fertilizante, água ou defensivo de forma uniforme, o agricultor faz isso apenas onde e quando é necessário – com base em mapas detalhados da área.

A definição oficial da Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão é clara: trata-se de um “sistema de gerenciamento agrícola baseado na variabilidade espacial e temporal da unidade produtiva, visando ao aumento de retorno econômico e à redução do impacto ao ambiente”. Em outras palavras, é usar ciência para produzir mais, gastando menos e poluindo menos.

Como a tecnologia entra em campo

A base da Agricultura de Precisão são os dados. E para coletá-los, o campo está repleto de olhos e ouvidos eletrônicos. As estrelas desse sistema são:

Satélites e GNSS (como o GPS): Localizam com exatidão cada ponto da lavoura.

Sensores no solo e nas plantas: Medem umidade, nutrientes, biomassa, presença de pragas.

Mapas de produtividade: Mostram quais áreas produzem mais ou menos, revelando padrões invisíveis a olho nu.

Drones e imagens aéreas: Monitoram as culturas com câmeras multiespectrais.

•   Máquinas inteligentes: Aplicam insumos com precisão cirúrgica, em tempo real ou conforme mapas pré-programados.

Um pouco de história (e de geopolítica)

O conceito de agricultura de precisão começou a germinar na década de 1980, com os primeiros mapas de produtividade gerados na Europa e nos EUA. Mas foi com o surgimento do GPS de uso civil, em 2000, que a ideia de “cultivar com exatidão” virou realidade acessível.

No Brasil, os primeiros passos foram tímidos, com importação de colhedoras com monitor de produtividade. Só a partir dos anos 2000 surgiram equipamentos nacionais e eventos científicos voltados à área, como o Simpósio Internacional de Agricultura de Precisão (SIAP) e o Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão (ConBAP). Em 2012, o tema ganhou status oficial com a criação da Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão.

O solo não mente: por dentro da variabilidade

Uma lavoura não é homogênea. Mesmo em talhões aparentemente uniformes, existem diferenças no relevo, textura do solo, acúmulo de matéria orgânica e capacidade de retenção de água. Essas variações determinam como a planta vai crescer, responder à adubação ou resistir a pragas.

A Agricultura de Precisão permite mapear essa variabilidade com precisão. Usando amostragens georreferenciadas, sensores ou imagens de satélite, é possível identificar áreas mais férteis ou degradadas. O resultado: insumos aplicados sob medida, evitando desperdícios e ampliando o potencial produtivo.

Inteligência artificial no campo

Com o avanço da análise de dados, a agricultura entrou na era dos algoritmos. Sistemas de IA são capazes de prever o risco de doenças, calcular o momento ideal da colheita e recomendar doses personalizadas de fertilizantes com base em milhares de variáveis.

Softwares agrícolas fazem a leitura de mapas, integram dados climáticos, históricos da fazenda e comportamento da cultura. Tudo isso para uma tomada de decisão mais precisa e segura – às vezes em tempo real, durante a operação do maquinário.

Ganha o produtor. Ganha o planeta.

A agricultura de precisão não se resume a produtividade. Seus benefícios vão muito além do lucro no campo:

Redução do uso de insumos: fertilizantes, herbicidas e água são aplicados apenas onde há real necessidade.

Menor impacto ambiental: menos químicos nos solos e nos lençóis freáticos.

Mais eficiência energética: tratores percorrem rotas otimizadas, economizando diesel.

Sustentabilidade de longo prazo: o solo é manejado com mais cuidado e inteligência.

Na prática, trata-se de uma agricultura mais limpa, mais justa e mais viável para um mundo que precisa produzir mais com menos.


Desafios e futuro

Apesar de todo esse potencial, a Agricultura de Precisão ainda enfrenta entraves importantes:

Custo inicial elevado, especialmente para pequenos produtores.

Necessidade de capacitação técnica: o operador de máquinas precisa virar um analista de dados.

Conectividade no campo, ainda precária em muitas regiões.

Mas o futuro promete avanços. Robôs agrícolas, sensores em sementes, colheitas seletivas por qualidade e monitoramento remoto por satélite em tempo real já estão em teste – e logo chegarão às fazendas.

Foto: https://br.freepik.com/ (2025)

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Raimundo Sirino Rodrigues Filho. Engenheiro Agrônomo, Pesquisador, Extensionista Rural e Professor Universitário. Graduado em Agronomia (UEMA); MSc. em Engenharia Agrícola – Irrigação e Drenagem (UFV) e DSc. em Agronomia – Solos e Nutrição de Plantas (UFPB).



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