Louremar Júnior

A juventude e o desenvolvimento local

Em um Brasil que envelhece rapidamente e enfrenta desafios sérios para renovar sua força de trabalho, o Maranhão se destaca por um diferencial poderoso e ainda pouco valorizado: sua juventude.
Segundo o Censo Demográfico 2022, o Maranhão é o 6º estado com maior proporção de jovens no Brasil, evidenciando um potencial estratégico raro em tempos de envelhecimento populacional. E esse dado se torna ainda mais relevante quando olhamos para os municípios com mais de 100 mil habitantes, onde a presença da juventude se consolida como uma vantagem demográfica e econômica.
Cidades como Balsas (28,2%), Imperatriz (25,7%), Açailândia (25,5%), São José de Ribamar (25,3%) e Bacabal (25,1%) lideram o ranking estadual com os maiores percentuais de jovens entre 15 e 29 anos. Estamos falando de milhares de pessoas em uma fase da vida marcada por energia, criatividade, disposição para aprender e vontade de transformar. Esses números, mais do que estatísticas, são um alerta e um convite: onde há juventude, há um terreno fértil para inovação, empreendedorismo e reinvenção econômica.
Lições de quem já investiu
Esse indicador deve ser encarado como um ativo estratégico de desenvolvimento. Em qualquer ecossistema inovador, a juventude é um dos elementos mais valiosos, porque representa agilidade, abertura ao novo, domínio do digital, criatividade, capacidade de adaptação e disposição para correr riscos, características essenciais em um mundo em constante transformação.
Cidades e regiões que conseguiram impulsionar sua economia nos últimos anos, tanto no Brasil quanto no exterior, seguiram um caminho comum: investiram em sua população jovem por meio de educação técnica e superior de qualidade, acesso à tecnologia, ambientes de experimentação e empreendedorismo, e políticas públicas voltadas à permanência desses talentos em seus territórios. Exemplos como Parnaíba (PI), que tem fomentado a inovação a partir de parcerias com universidades e do incentivo ao empreendedorismo estudantil; Sobral (CE), referência nacional em educação pública de base e protagonismo juvenil; e Santa Rita do Sapucaí (MG), reconhecida como o “Vale da Eletrônica” por transformar jovens em empreendedores tecnológicos, demonstram que é possível gerar desenvolvimento sustentável quando se enxerga a juventude como parte da solução e não como um problema a ser administrado.
Ao contrário do que muitos pensam, a juventude não é um desafio a ser contido, mas uma força a ser ativada. Quando incentivados, jovens se tornam protagonistas de soluções criativas para problemas locais, fundam startups, redesenham serviços públicos, criam negócios que geram empregos e movimentam a economia. Além disso, o investimento na juventude gera efeitos em cadeia: melhora indicadores educacionais, reduz a evasão e o desemprego, atrai novas empresas, fortalece o comércio local e aumenta a capacidade de inovação da região como um todo.
O grande potencial de Bacabal
Em meio a esse cenário estadual promissor, Bacabal ocupa uma posição de destaque, figurando entre os cinco municípios, com mais de 100 mil habitantes, com maior proporção de jovens entre 15 e 29 anos no Maranhão. São mais de 25 mil jovens em uma fase vital de formação, criatividade e energia produtiva, um número que, se bem aproveitado, pode transformar a cidade em referência regional de inovação, geração de renda e soluções locais.
Contudo, ainda falta mais estrutura para acolher e desenvolver esse potencial. Embora Bacabal conte com instituições importantes como UFMA, UEMA, IFMA, Pitágoras, além de polos EAD e outras faculdades privadas, a oferta de cursos está fortemente concentrada em áreas tradicionais, como licenciaturas, direito, enfermagem e administração. Pouco se avança em áreas estratégicas como tecnologia da informação, gestão pública moderna, economia digital, agronegócio, e inovação social, áreas que estão remodelando o mercado de trabalho no Brasil e no mundo.
Essa limitação faz com que muitos jovens precisem deixar a cidade para buscar formação em centros urbanos maiores, como São Luís, Teresina ou até mesmo capitais de outros estados. Essa evasão estudantil representa não apenas um custo social e emocional para as famílias, mas também uma perda significativa para o município, que vê sair sua força de trabalho mais promissora, muitas vezes sem retorno. Sem oportunidades locais de formação e desenvolvimento, a cidade perde a chance de construir sua própria base de talentos, comprometendo seu futuro econômico e sua capacidade de inovação.
Para que Bacabal consiga, de fato, desenvolver sua economia de forma sustentável, é essencial investir na sua base e isso significa transformar sua vantagem demográfica em uma estratégia real de desenvolvimento local. Isso passa por quatro pilares fundamentais:
• Expandir a oferta de formação técnica e superior em áreas emergentes
• Fomentar a permanência dos jovens no território
• Conectar juventude, escola e mercado de trabalho
• Valorizar o protagonismo juvenil nas decisões públicas
Não há dúvida: Bacabal já tem o principal insumo para transformar sua realidade, que são as pessoas. Mais especificamente, seus jovens.
O que falta não é talento. Falta visão estratégica. Falta articulação entre o poder público, instituições de ensino, setor produtivo e sociedade civil. É necessário compreender que cada jovem que escolhe ficar, empreender, aprender e crescer em Bacabal é um ativo de valor inestimável, um investimento que retorna em forma de desenvolvimento econômico, geração de empregos, arrecadação, inovação e melhoria da qualidade de vida para toda a cidade.
O futuro de Bacabal não precisa ser importado. Ele já está aqui. Só precisa ser ativado.
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Louremar Júnior é Professor e empresário. Formado em Sistemas para Internet; Especialista em Gestão da Inovação; Especialista em Docência no Ensino Médio e Técnico; Especialista em Análise de Dados e Inteligência Artificial; Coordenador do Núcleo Escola-Trabalho do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IEMA; CEO da Vincc1 Tecnologia e Inovação.
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